Roland Emmerich já nos enviou extra-terrestres para nos destruir (
The Independence Day), já ameaçou a população com um lagarto gigante (
Godzilla) e já nos congelou o hemisfério norte (The Day After Tomorrow). Como se ainda não bastasse, agora rebentou com o planeta inteiro.
Quanto à história, não há muito a dizer. Em 2009, cientistas descobrem que, devido a fenómenos solares, a crosta terrestre está prestes a sofrer transformações drásticas. Os líderes mundiais depressa arranjam um plano de construir autênticas Arcas de Noé no Tibete. Em dois anos, conseguem miraculosamente (este filme está cheio de miraculosamentes) construir tais monstros da engenharia em segredo mundial. Extraordinariamente, esta foi a parte que mais gostei do filme, em que vemos como é que numa situação extrema se concebe um plano de sobrevivência deste calibre.
Para além deste projecto de sobrevivência megalómano, que a pouco e pouco é-nos revelado, o filme segue a aventura miraculosa de Jackson Curtis (
John Cusack) e sua família na tentativa de sobreviver à catástrofe global. Desde as ruas caóticas da Califórnia, às montanhas geladas da China, é impressionante como tudo acontece ao milímetro. Onde Jackson e a sua família pisam, no segundo seguinte está tudo destruído. Guiando por ruas misteriosamente sem trânsito e atravessando prédios inteiros em Los Angeles, escapando num jacto por entre uma cidade em ruínas, fugindo numa caravana de um vulcão em explosão, até escapar de um avião dentro de um Bentley, esta família consegue tudo e mais alguma coisa tornando este filme o ex libris das impossibilidades, coincidências e milagres. No fim de contas, a família atravessa o Pacífico com a ajuda de personagens que são autênticas caricaturas de estereótipos e após coincidências que nos deixam um cheiro nauseabundo a forçado, encontram e conseguem entrar nas enormes arcas de salvação (tão sofisticadas e seguras que permitem que vá tudo por água abaixo graças a alguém que conseguiu entrar sem ser convidado e encravou tudo com um simples cabo) que, em vez de terem espécimes férteis da espécie humana, estão cheias de velhos milionários.
Os efeitos especiais deslumbram na caótica destruição do planeta, quer seja pelo tsunami a invadir as montanhas do Tibete, a queda do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, a parafernália de caos nas ruas de Los Angeles, ou ainda o porta aviões John F. Kennedy a destruir a Casa Branca. Vale a pena ir ver ao cinema. Mas só por isto. Não contem com mais nada de novo. O resto é o de sempre já visto e reciclado. Um conjunto de situações e personagens cliches que deixam o espectador a adivinhar o que se vai passar. Não fosse o elenco de grandes actores,
2012 ainda metia mais água. É pena as personagens serem meros fantoches. O Chefe de Gabinete do Presidente (
Oliver Platt) é perspectivado como o mau carácter, como já é costume neste tipo de personagem pragmático, mas que toda a gente precisa neste tipo de situações. A filha do Presidente (
Thandie Newton) é uma mera figurante. É vendida como sendo uma personagem de alguma relevância, mas no final não passa de um muitíssimo forçado par romântico para o geólogo Hemsley (
Chiwetel Ejiofor), já que o filme era exactamente igual sem ela. Esta corrida desenfreada de sobrevivência não dá sequer espaço para desenvolvimento dos personagens, embora também não seja preciso muito, porque já todos conhecemos estes heróis dos filmes americanos...
Concluindo:
2012 tem efeitos especiais, efeitos especiais e ainda efeitos especiais.