Não consegui esperar que chegasse às salas de cinema, desculpem-me. Já tinha tudo preparado para ver a sua estreia em Junho, mas adiarem o filme para Agosto foi uma estalada na cara. Já não bastava o filme ser de 2008, estarem a mudar a data em cima da hora para dois meses depois foi demais. Lá fui vê-lo, por meios ligeiramente ilegais...
Charlie Kaufman já nos tinha prendado com os argumentos de filmes como Being John Malkovich, Adaptation, ou Eternal Sunshine Of The Spotless Mind. Agora, para além de escrever Synecdoche, New York, também o dirigiu. O seu primeiro trabalho como realizador é uma das mais profundas e penetrantes obras cinematográficas dos últimos tempos.
Philip Seymour Hoffman (Capote, Doubt) interpretou na perfeição a imperfeita vida de Caden Cotard. Desde as preocupações com a sua saúde, aos seus dilemas morais e emocionais com Hazel (Samantha Norton), Caden revela-se um personagem deveras complexo. A complexidade de Caden não seria tão evidente e tão perfeitamente representada sem toda a parafernália de pessoas que compõe a vida deste encenador de teatro. A sua mulher (Catherine Keener) depressa o faz ver que não quer que ele faça parte da sua vida, indo, durante uma semana "interminável", com a filha dos dois para a Europa lançar a sua exposição de pintura. A sua psicóloga (Hope Davis) é melhor a vender livros de auto-ajuda do que a ajudá-lo verdadeiramente. A sua box-office, Hazel (que vive numa casa a arder), revela as dificuldades emocionais que Caden não consegue controlar, enquanto que a sua actriz principal (Michelle Williams) acaba por ser um despertador para a realidade que ele tenta transpôr para a peça, mas que acaba por ser uma realidade que o próprio tarde demais consegue compreender. É fantástico como, após seguir os seus anos e anos de complicadas relações e problemas, me embrenhei completamente dentro da sua própria mente, tal como ele se perde dentro da sua própria vida. A metáfora é levada ao extremo em múltiplas cidades e representações da vida real que ele tanto tenta transformar numa peça de teatro que se prolonga eternamente. Um último destaque para a música de Jon Brion. Grande Little People!
É sem dúvida um filme a ver, que espero que não passe despercebido e nem seja esquecido. Parece que ninguém reparou nele aquando da nomeação aos prémios da indústria... Pelo menos teremos um bom filme para fugir à vaga de filmes de Verão de Agosto (excepção feita a Up, é claro).
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