Eu, no Estoril Film Festival (6 de Novembro)
Na minha primeira incursão num ambiente tão cinematográfico, que eu próprio me sentia pequenino, tive logo um dia em grande.

Sozinho, mas com toda a vontade, comecei por Décalage Horaire (Danièle Thompson, 2002), que faz parte da homenagem a Juliette Binoche. Com Jean Reno, o filme é um agradável romance, sobre duas pessoas muito diferentes que se conhecem num aeroporto. O filme ganha pela sua simplicidade, e pela sua "pequenez". Mas não vou aqui falar mais do filme. Muito já foi dito com certeza.
Após sair da sala de cinema do Casino Estoril (olha, um famoso: o Marco Horácio), fui para o Centro de Congressos. Já tendo o passe do festival, fui levantar os bilhetes para o documentário da noite e para as sessões a que fazia conta de ir no fim de semana: Os Sorrisos Do Destino, Tetro, (ups esqueci-me de comprar para o Moon). Eram cinco e pouco, ainda faltava uma hora para a sessão de autógrafos da Juliette Binoche. Fui ver as exposições.
Portraits In-Eyes, é um conjunto de pinturas, auto-retratos e frases poéticas que resultam de um trabalho de Juliette em que pintou os seus realizadores, escreveu para eles e retratou as suas personagens. O resultado é um trabalho fantástico que ilustra as dezenas de filmes da sua carreira. Um talento escondido da actriz francesa mais prestigiada internacionalmente.
De seguida, fui ver a exposição de David Cronenberg: Chromosomes. É um conjunto de painéis, feitos a partir de fotogramas dos diversos filmes do realizador. Fiquei absorvido pelo conjunto de 4 fotogramas que ilustram duas mãos a transmitirem um caderno uma a outra. Fantástico.
Ainda pouco passava das cinco e meia. Fui ao Espaço Fnac onde iria ser a sessão de autógrafos. Montaram um pequeno espaço com sofás, três televisões com The Godfather Part II, The Curious Case Of Benjamin Button, e um outro filme que não identifiquei. Várias prateleiras com DVD's, CD's e livros. Tudo, como não podia deixar de ser, baseado nas estrelas que o Festival iria receber. A multidão começava a juntar-se à mesa onde às 18h estaria Juliette Binoche. Já passavam das seis e nada. Ouvi uma mulher do Staff a comentar com Paulo Branco, que a maquilhadora de Juliette atrasara-se no trânsito. Já estava uma fila considerável. Decidi desistir do meu lugar nos primeiros vinte da fila e fui à rua. Estava frio. Dois carros estavam a bloquear o acesso ao Centro de Congressos. Paulo Branco estava enervado com a situação. Continuei lá fora. Já eram quase 19h quando o carro que trazia Juliette e a sua irmã chegou. Primeiro confundi as irmãs. São parecidas. Mas depois o carro deu meia volta e Juliette saiu. Ela é ainda mais bonita que nos filmes.
A multidão aplaudiu e os flashes começaram. Começaram os autógrafos. Fui para o final da fila. Tive boas pessoas à minha volta. Um casal simpático, duas senhoras com mais idade, e um senhor que era um bom apreciador de cinema. Sem saber, já me deu uma dica para uma próxima aquisição: Les Uns Et Les Outres (1981). Muito vagarosamente a fila avançou e Paulo Branco já ameaçava que nem todos poderiam ter autógrafo. As restrições aumentaram: "só dá um autógrafo por pessoa"; "já não há fotos"; "não demorem". A Mademoiselle Juliette já deveria estar farta de assinar coisas quando chegou a minha vez. Tanto pensava como me ia dirigir a ela, que na altura esqueci-me de lhe dar a minha caneta e acabou por assinar com a caneta de feltro que tinha à sua disposição. Lá ficou registado: "Pour (meu nome) With Love, Juliette Binoche".
Já passava da hora do documentário, e foi um apressar, porque a sua presença era essencial. Juliette Binoche Dans Les Yeux é um documentário de Marion Stalens (a irmã de Juliette), sobre a própria Juliette. O filme de 50 minutos fez-me conhecer a estrela de cinema como nunca a conhecera nos filmes ou entrevistas. Um olhar muito pessoal e intimista sobre a pessoa, actriz e artista, Juliette Binoche. A sua participação num espectáculo de dança, a que se entregou de corpo e alma. As suas pinturas que a deixam guardar um pouco de si, o que sobrou dos filmes, das personagens, das histórias. O que vai na sua cabeça. No final, a multidão que enchia o auditório explodiu num aplauso às duas irmãs. Seguiu-se a conversa com o público. Perguntas aqui e ali, umas mais interessantes que outras, agradecimentos pelo documentário, elogios, e Juliette sempre a responder com uma alma e uma força que conseguiu transmitir para as centenas de pessoas, com uma espontaneidade maravilhosa. Já se fazia tarde, tinha ainda que ir de comboio para Lisboa, mas fiquei até ao fim. Mais um aplauso estrondoso para as irmãs, e por aqui terminou este dia fantástico.
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