Up In The Air

Dois anos depois de Juno, que parecia esforçar-se demasiado para ser indie, Jason Reitman consegue aqui um filme saboroso e muito bem escrito.
Aproveitando a actual conjuntura económica norte-americana Jason apresenta-nos Ryan Bingham, interpretado por George Clooney, um homem que tem o bizarro emprego de despedir pessoas pelo país fora e vive de aeroporto em aeroporto, de mulher em mulher, de empresa em empresa, de conferência em conferência (até as conferências metaforizam este desprendimento de relações). A história acaba por ser a que já muitas vezes foi contada: um homem isolado de relações e compromisso, defende a sua filosofia egoísta até aparecer alguém que abala o seu mundo e fá-lo repensar as suas convicções. Mas Reitman não fez algo assim tão simples. O contexto em que aplicou esta premissa, as personagens que criou, e o argumento delicioso do início ao fim, fazem de Up In The Air, um dos melhores filmes do ano.

Não só George Clooney tem um dos melhores papéis da sua carreira, como Anna Kendrick e Vera Farmiga formam um trio de representações merecedor de, no mínimo, nomeações para Oscar. Alex Goran (Farmiga) é como Ryan, só que "com vagina". Os dois, aparentemente tão parecidos, dispostos apenas a uma relação fortuita e sem compromissos, iniciam uma inesperada relação que faz tremer a filosofia de Ryan. Em conjunto com o aparecimento da jovem e inocente Natalie Keener (Kendrick), que tenciona cortar pela raiz a vida de viajante a tempo inteiro de Ryan e pô-lo a despedir pessoas sentado a um computador, Ryan vê a sua perspectiva de vida mudar aos poucos. Up In The Air é sobre relações, sobre isolamento, sobre amizade e o bom que é ter alguém. É sobre a sociedade que tem vindo a perder muitos dos seus valores graças ao contacto virtual que a tecnologia tem vindo a impor e tenta-nos chamar a atenção para isso, sem aquele frontalismo provocante de Michael Moore.

O melhor do filme é isto: os personagens. Não é preciso um argumento complicado ou demasiadamente trabalhado, pois Reitman transmite-nos magistralmente a essência e pormenores do seu trio protagonista. Com três personagens ricos e magistralmente criados, que se cruzam e influenciam uns aos outros, Up In The Air é uma surpresa realmente boa, que nos penetra na mente com o seu final realista e intencionalmente tocante. Sem que o público se aperceba, Jason Reitman insere o relato verídico de pessoas que perderam o seu emprego, pois o seu filme, de certo modo é o retrato da actual crise económica e social dos Estados Unidos. Com um bom trabalho de edição nas cenas inicias de Ryan a seguir com o seu ritual de viagem, um genérico também muito bom, e uma agradável banda sonora, Up In The Air é um excelente filme. O seu ponto menos bom é não ter hipóteses nos Oscars para melhor filme. Mas isso não nos interessa nada, porque Up In The Air é realmente bom.


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